A Batalha de Tiryndor e o Sacrifício Vermelho
A rebelião mortal não nasceu em campos de batalha, mas em bibliotecas, laboratórios, templos vazios e câmaras de conselhos.
Magos humanos e élficos começaram a mapear a relação entre dragões e o fluxo de mana.
Sacerdotes ressentidos, cuja fé não era respondida pelos deuses silenciosos, passaram a pregar que a tutela dracônica era um “desvio” do papel natural dos mortais.
Senhores de cidades e generais viram nisso uma oportunidade: se o mundo fosse libertado dos dragões, quem o reconstruísse seria seu novo dono legítimo.
Alianças foram formadas em sigilo:
cidades-estado insatisfeitas,
reinos menores com fome de território,
magos interessados em romper limitações éticas,
cultos que viam nos dragões um obstáculo à ascensão de novas entidades.
Enquanto isso, os dragões continuavam oscilando entre pacificação e negação. Alguns queriam intervir de forma dura, outros insistiam que aquilo era apenas um ciclo de ingratidão passageira. O Tribunal observava – mas ainda não via quebra irreparável.
Quando a coligação mortal ficou pronta, o mundo tremeu.
Exércitos avançaram pelos Bloodspire Highlands, portando armas ritualísticas, estandartes sem símbolos dracônicos e magias que jamais haviam sido testadas em escala real. A meta não era uma cidade qualquer: era Drakenstone, o coração da presença dracônica nas Ashen Lands.
A Batalha de Tiryndor começou como conflito físico: asas contra lanças, sopros de fogo contra muralhas encantadas, trovões de mana contra formações de infantaria.
Durante os primeiros dias, a superioridade dracônica era clara. Cada dragão era um exército; cada mergulho, um terremoto.
Mas o verdadeiro plano não era vencer no campo.
Entre soldados e magos, havia um círculo menor – os Arquitetos do Ritual Vermelho. Eles não precisavam sobreviver à batalha; só precisavam que o massacre fosse suficientemente grande.
À medida que o sangue encharcava a terra de Bloodspire, runas invisíveis começaram a ser ativadas. Cada morte, de mortal ou dragão, alimentava uma teia encantada inscrita secretamente nos próprios leitos de rocha da região.
Quando o ritual atingiu o ápice, uma onda silenciosa percorreu céu, pedra, carne e fogo.
Dragões sentiram o coração do mundo se afastar deles.
Asas falharam.
Fogo interno apagou.
Escamas perderam o brilho arcano.
A ligação deles com os Conceitos – o que os tornava guardiões, não apenas monstros poderosos – foi arrancada.
Em poucos minutos, criaturas semi-eternas se tornaram corpos vivos, mortais, frágeis.
O que se seguiu foi execução, não guerra.
Dragões, agora presos à física comum, foram abatidos um a um. Alguns tentaram fugir em forma humana. Outros escolheram morrer em pé, realizando últimos atos de contenção de mana para evitar uma catástrofe maior.
Quando o silêncio caiu sobre Tiryndor,
não restavam guardiões.
Só cadáveres – dracônicos e mortais – e uma cicatriz arcana tão profunda que continuaria sangrando por eras.
O Tribunal tomou nota.
Deuses observaram.
Ninguém interveio.
Os mortais declararam vitória.
O mundo começou a ruir por dentro.